Walderez Coelho está na Maxtrack desde o seu início, nos anos 2000. Ela participou da criação de processos, atuou em várias áreas, viu a empresa crescer e mudar de nome e de endereço. Se você precisa de algo dentro da empresa, a Wal com certeza pode ajudar.
Com a expressão tranquila e voz calma, ela conta sobre o seu dia agitado, entre tarefas mais práticas e mais intelectuais: responder e-mail, conversar com fornecedores, auxiliar outras áreas, preencher planilhas. Ela coordena o setor de Supply Chain, garantindo que os produtos da Maxtrack sejam entregues aos clientes com segurança e agilidade.
Para ela, as dificuldades da mulher no mercado de trabalho são históricas, socialmente colocadas, já que as capacidades – tirando talvez a força física – são as mesmas. “Eu enxergo que, da minha geração em diante, foi a que conseguiu abrir algum tipo de porta ou foi aberta na marra. Chegamos, empurramos e falamos ‘também quero, eu também tenho direito e vou atrás do que eu desejo’”.
Ela afirma ainda que “a nossa missão, inclusive, é finalizar essa abertura das portas para que as novas gerações já cheguem com um ambiente um pouco mais preparado para trata-las de forma igualitária”.
Para todas as mulheres, Walderez tem um conselho: “Ter certeza daquilo que quer, saber que é capaz e ir atrás Porque vai ser difícil, mas não pode desistir”.
De Caeté para Belo Horizonte e de Belo Horizonte para o mundo
Nascida em Caeté, Walderez Coelho desde novinha tinha um objetivo: ingressar no mercado de trabalho. Assim, ela saiu de sua cidade natal para fazer o ensino médio técnico em Belo Horizonte, onde cursou eletrônica no CEFET/MG. EM 2000, com seus 20 anos, Walderez começou a trabalhar na Maxtrack. “Eram somente 5 pessoas. E a Maxtrack estava produzindo seu primeiro grande lote de rastreadores… 50 peças (risos)”.
Estudar sempre foi de seu interesse, por isso, empregada, não esperou muito para começar a faculdade de… letras.
Entretanto, em 2004, surgiu na PUC, em parceria com a FIAT, um curso de “gestão de produção industrial”, prévio à engenharia de produção, que, naquele momento, fez mais sentido para a carreira de Walderez do que Letras. “Era um curso que voltava a visão para a produção industrial, alinhado com gestão de pessoas, administração e também um pouquinho da visão de matérias de engenharia. O perfil era bom para mim, se eu quisesse crescer na profissão… voltando, meu foco era o trabalho. Então naquela época eu tomei a difícil decisão de trancar o curso na UFMG e, entre aspas, abrir mão do meu sonho, para esse outro curso que poderia me dar mais oportunidades de crescimento dentro da Maxtrack”.
Em 2006, a empresa foi chamada para parceria em um projeto de logística embarcada nos ônibus metropolitanos em Santiago, no Chile. Para iniciar o projeto, foi montada uma equipe que incluía Walderez. Só que, além disso, ela havia sido convidada para vistoriar uma linha de produção de equipamentos em Taiwan. “Olha o meu mundo voltando aí né… achei que tivesse aberto mão do meu sonho de viajar, de falar inglês e conhecer outros países… Fui para Taiwan primeiro, voltei já com outra passagem e fui para o Chile, onde fiquei um ano e meio”.
Finalizada a implantação, Wal voltou para Belo Horizonte para concluir sua graduação. Em 2009 foi aberta a fábrica em Betim, e ela passou a acompanhar a produção. A empresa continuou em expansão, e foram abertas as filiais na China. Atuando como Supply Chain, Walderez tem contato direto com os colaboradores na Ásia. Ela conta que, uma vez por ano, vai a Hong Kong e a Beijin, visitar fornecedores, e aproveita para conhecer algum novo lugar no mundo.
Opinião: os obstáculos para as mulheres no mercado
Ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, para além dos 500 anos de Brasil, mas de toda uma história na qual o homem teve prioridade. As portas foram abertas para eles primeiro, e as mulheres ainda tentam se equiparar em muitas frentes.
Walderez afirma que “já se sabe que as capacidades são as mesmas, tirando a força física, que em muitas vezes ainda se iguala, mas a capacidade intelectual, de entrega, realização de conexão… a capacidade analítica: são todas iguais”.
Wal também afirma que as mulheres têm mais insegurança, devido à sua história de luta por reconhecimento, então estão sempre um passo à diante. “Se eu vou entregar um trabalho, se vou fazer uma apresentação, concluir uma tarefa… Conferimos sempre cinco vezes mais que um homem. Sofremos essa pressão psicológica de ‘tenho que estar melhor porque se não estiver perfeito, vão encontrar defeito’. O homem tem menos receito de pedir ajuda, ele vai construindo o caminho, é mais ousado. Tem esse menor receio do erro”, completa.
Ela conta que, em sua área de atuação, existem algumas dificuldades relacionadas à quem está do “outro lado”. “Dependendo do outro lado, você pode ter uma boa recepção, de alguém que já está evoluído a ponto de reconhecer que uma mulher pode estar ali numa mesa de negociação de igual para igual… como pode acontecer de ter um homem machista de não aceitar negociar com mulher, de não aceitar que ela tenha o entendimento e esclarecimento técnico”.
Walderez conta também que a situação nunca aconteceu com ela diretamente, mas que colegas de profissão relatam ter vivido esse tipo de constrangimento. Além disso, ela nos lembra que, ainda, em alguns países, a mulher não pode participar de negociações, sendo necessário uma comitiva masculina. Ou seja, apesar dos nossos avanços, ainda existe uma longa jornada até a “igualdade” que tanto desejamos.