Emanuelle Oliveira, ou só Manu, tem 18 anos e é a mais nova integrante da equipe de desenvolvimento. A fala é mansa, mas certeira: ela diz o que precisa dizer com exatidão e segurança. Sendo uma mulher, jovem, no mundo da programação, ela conta que a maior dificuldade é o incentivo.
“É difícil você estar rodeada de homem o tempo todo, sabe? Você se julga muito, se fecha um pouco, se diminui, tem muito medo de ter voz. O que eu mais gosto (na Maxtrack) é que eu entrei em uma equipe que a galera se ajuda muito. Eu tenho muita autonomia de fazer, pedir ajuda…”
Ela conta que, de certa forma, a desconfiança das pessoas na sua capacidade acabou empurrando-a para frente: “quando eu estava no nono ano, último ano do fundamental, um técnico da equipe de robótica da escola me viu estudando e perguntou ‘o que você vai tentar lá?’. E eu ‘ah, vou tentar rede de computadores, porque eu quero ir para a área da programação…’. Ele riu da minha cara e falou ‘por que você vai fazer isso? Você não vai se dar bem’.
“Eu nunca esqueci isso. Fiz questão de passar e de gostar. Eu acho engraçado porque, depois disso, eu me esforcei tanto que todos os meus professores elogiavam minha lógica. Isso com certeza foi decisivo para eu não ter desistido durante um tempo”. Com uma expressão sonhadora, ele me diz que o seu conselho para outras mulheres é tentar. “Não ter medo… e outra coisa, paciência. Porque conhecimento demanda tempo. Se permitir errar um pouquinho e seguir outras mulheres. Se apoiar em quem é âncora”.
Biologia, química… lógica de programação?
Emanuelle é recém-formada no ensino médio-técnico. Apesar da pouca idade, ela já tem muita história para contar. “Em 2018 eu estava em uma escola nova, e eu estava me dando muito bem lá. Mas no meio do ano eu resolvi que ia fazer CEFET. Na época eu acreditava que ia para a área de ciências biológicas. Eu amava biologia, física… Ai eu pensei: e se eu fizer um curso diferente? Um curso na área de computação. Se eu não gostar eu pelo menos tentei”.
Manu estudou sozinha e passou para o curso de rede de computadores. Ela conta que, logo no primeiro ano, teve um professor “carrasco” na matéria mais importante do curso, mas que os dois se davam bem. “Esse professor me fez gostar de lógica de programação e eu pensei em dar uma chance. E fiz a minha primeira iniciação científica, que foi com outro professor super carinhoso que inclusive me ensinou a tecnologia que eu uso hoje, que é Python”.
Ela seguiu na área, participando de projetos do CEFET junto a empresas privadas como a Take Blip, que desenvolve chatbots. “Fiz um projeto mais científico, mais acadêmico com eles sabe, não foi um projeto muito de mão na massa de código, foi de muita leitura, pesquisa, dedução… mas graças à esse projeto eu consegui meu primeiro emprego.
Emanuelle não está cursando faculdade, mas os estudos não saem de seu radar. “Eu pretendo fazer Ciência da Computação, porque eu gosto da área acadêmica também. Quero escrever uns artigos, fazer mestrado futuramente… mas preciso de um ano de descanso”.
Mulheres na programação
Para Emanuelle, o incentivo a permanecer na programação é o que mais falta no meio da tecnologia. “As mulheres têm medo de entrar, sabe? Realmente é difícil você estar rodeada de homem o tempo todo. Você se julga muito, se fecha um pouco, se diminui principalmente, tem muito medo de ter voz…
“E isso é uma coisa que eu agradeço muito ao CEFET. Primeiro de tudo, eu estudava em uma sala de 35 pessoas e só tinha 7 meninas. Então a gente, só de estar ali, era se forçar a conhecer um pouquinho o mercado e lá dentro tem muita iniciativa para meninas se manterem na área.